O Burnout materno: a força do cuidado, o peso da sobrecarga.

Dec 22 / Simone Nascimento
Se perguntarmos para as mulheres em geral e para as mães em particular se elas estão cansadas, a resposta será quase sempre um sonoro sim.

O esgotamento materno se inicia ainda durante a gravidez, quando a mulher geralmente precisa manter sua jornada de trabalho, estudos e vida familiar e ainda lidar com os preparativos para a chegada de um bebe, além das mudanças hormonais e físicas que seu corpo passará ao longo da gestação e puerpério.

O nascimento da criança marca um momento intenso, feliz, mas ao mesmo tempo cansativo para a mulher. E tudo bem ficar cansada, pois não é fácil, nem simples cuidar de um bebê. A coisa pararia por aí se não fosse a sobrecarga gerada por duplas ou triplas jornadas que a mulher carrega.  

Historicamente, as mulheres assumiram a maior parte das responsabilidades de cuidado dentro das famílias e comunidades e todos os dias meninas e mulheres ao redor do planeta dedicam mais de 12 bilhões de horas ao cuidado não remunerado, segundo pesquisa da Oxfam Brasil.   

Isso inclui o cuidado de crianças, idosos, doentes, bem como as tarefas domésticas. Embora essas atividades sejam essenciais para o funcionamento da sociedade, ou seja, fazem o mundo girar, elas têm sido frequentemente subvalorizadas e invisibilizadas no contexto econômico tradicional.

A pesquisa Tempo de Cuidar, da Oxfam Brasil, constatou que se esse trabalho fosse contabilizado e pago, ele representaria mais de 10 trilhões de dólares anuais – cerca de três vezes o valor que a indústria de tecnologia injeta da economia mundial  a cada ano e se fosse um país, seria a 4ª maior economia.  

Essas horas trabalhadas e não remuneradas relacionadas ao ato de cuidar de outras pessoas e do ambiente são chamadas de "Economia do Cuidado", um conceito que tem ganhado destaque nas discussões econômicas e sociais contemporâneas. Este trabalho geralmente recai de forma desproporcional sobre as mulheres, impactando significativamente suas vidas e, consequentemente, sua saúde mental, pois a sobrecarga de trabalho pode levar à exaustão física e emocional, aumentando o risco de estresse, ansiedade e depressão.

Além disso, a falta de reconhecimento e apoio para essas tarefas pode minar a autoestima e a autonomia das mulheres, prejudicando ainda mais seu equilíbrio emocional.   Diante de todo esse cenário, há  alguns anos começaram a surgir discussões sobre a semelhança do esgotamento materno com aquele observado nas atividades de trabalho formais e remuneradas e atualmente já se fala em Burnout materno.

O burnout materno é uma condição de esgotamento físico, emocional e mental e semelhante ao que acontece nas situações de trabalho formal é causado por uma sobrecarga de responsabilidades e estresse, e pode levar a uma série de problemas de saúde mental, como depressão, ansiedade e estresse pós-traumático.    

É válido destacar que essa condição não é sinal de fraqueza ou causada pela maternidade em si, mas pelo modo como a mulher está vivendo esse momento e o quanto de ajuda ela recebe, ou seja, é uma resposta natural a uma carga excessiva de responsabilidades e pressões.

O burnout materno pode se manifestar de várias formas, incluindo fadiga crônica, mesmo após dormir o suficiente, irritabilidade, com uma agressividade que não lhe é habitual, falta de motivação, sentimentos de desesperança e isolamento social. As mães ou outras pessoas envolvidas em cuidados podem se sentir constantemente esgotadas, mesmo após períodos de descanso, e enfrentar dificuldades para encontrar alegria nas atividades que antes lhes traziam satisfação.

O mês de janeiro é dedicado à conscientização sobre a saúde mental, e o tema do burnout materno é especialmente relevante em um contexto de crescente sobrecarga das mulheres.É impossível falar de prevenção em saude mental sem considerar as questões que levam as mães e outras pessoas cuidadoras a adoecer.

Aqui estão algumas ações que podem ser tomadas para reduzir o risco de burnout e outros transtornos mentais em pessoas envolvidas em cuidados:

●     Garantir que o trabalho de cuidado seja distribuído de forma mais equitativa entre os gêneros.
●     Ampliar as discussões sobre licença parental, creches acessíveis e serviços de cuidado de longo prazo.
●     Reconhecer e valorizar o trabalho de cuidado não remunerado.
●     Criar espaços de apoio, serviços de aconselhamento e programas de educação sobre saúde mental.

Ao tomarmos medidas para apoiar as mães, estamos investindo na saúde e no bem-estar de toda a sociedade.



Fonte:

Artigo produzido por:

Simone Nascimento

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