Quando foi a última vez que você sonhou para si mesma?

Oct 9 / Fernanda Cobos

Recentemente, em um workshop de investimento financeiro, fui convidada a refletir sobre uma pergunta que parecia simples, mas que mexeu profundamente comigo: Quais são os meus sonhos? Enquanto eu estava ali, percebi o quanto essa pergunta se perdeu em meio à rotina. Assim como tantas outras mulheres, me vi tão focada em garantir a sobrevivência de tudo ao meu redor—trabalho, filhos, casa—que havia esquecido de algo fundamental: sonhar para mim mesma. Não foi um erro intencional, mas resultado de anos de hábitos culturais e sociais que nos ensinam, de maneira sutil ou explícita, que o nosso papel principal é cuidar, nutrir e garantir que tudo esteja em ordem. Isso ressoou com você? Sei que não estou sozinha nesse sentimento. Muitas de nós, especialmente como mães e profissionais, nos encontramos tão imersas em atender às necessidades de outros que acabamos deixando nossas próprias aspirações de lado. Às vezes, parece que sonhar grande ou pensar no que queremos para nós é um luxo, um privilégio que só podemos nos permitir depois de termos feito tudo por todos. Mas será que esse é o caminho?

Expectativas Sociais e Culturais que nos Moldam

A verdade é que somos moldadas por expectativas que nos colocam no papel de cuidadoras. Essa pressão invisível não só define nosso papel nas famílias, mas também afeta nossas escolhas profissionais e pessoais. Dados do World Economic Forum (2021) mostram que 44% das mulheres em todo o mundo relatam que responsabilidades domésticas e familiares são uma barreira significativa para o avanço de suas carreiras. Esse dado é alarmante, não é? Ele revela que, mesmo quando queremos crescer profissionalmente ou seguir nossos sonhos, existe uma barreira real que nos impede: a sobrecarga de responsabilidades que historicamente foram atribuídas a nós. 

Falta de Modelos de Referência
 

Outra barreira que muitas de nós enfrentamos é a ausência de modelos de referência. Quantas vezes, ao olhar para uma posição de liderança ou para uma carreira dos sonhos, nos questionamos: Será que é possível para mim? Muitas vezes, faltam exemplos que nos mostrem o caminho. De acordo com o Catalyst (2022), apenas 24% dos cargos de liderança em STEM (ciência, tecnologia, engenharia e matemática) são ocupados por mulheres. Isso limita nossa visão do que é possível. Sem ver mulheres ocupando espaços que desejamos, nossa capacidade de sonhar é silenciada. Afinal, se não vemos exemplos, é mais difícil acreditar que podemos ser uma dessas exceções. 

Autoestima e Autovalorização: Como Encaramos Nosso Valor 

A baixa autoestima também desempenha um papel importante. Desde pequenas, somos condicionadas a acreditar que precisamos atender a certos padrões de beleza, comportamento e sucesso para sermos suficientemente boas. Essa insegurança sobre nós mesmas reflete diretamente em nossa capacidade de sonhar grande. Segundo o Dove Global Beauty and Confidence Report (2016), 85% das mulheres evitam atividades importantes devido à insegurança com sua aparência. Esse é um dado forte e nos mostra o quanto as barreiras internas também podem nos paralisar. Quando nos sentimos insuficientes, evitamos tomar riscos, seguir novos caminhos ou até mesmo acreditar que merecemos algo maior. 

A Sobrecarga de Responsabilidades Externas

Além disso, há a questão do tempo. Nós, mulheres, tendemos a dedicar muito mais tempo a tarefas domésticas e cuidados, mesmo quando somos parte da força de trabalho. Segundo o Pew Research Center (2019), em média, mulheres gastam 2,6 horas a mais por dia em tarefas domésticas do que os homens. Quando a maior parte do nosso tempo é dedicada ao cuidado de outros, é natural que sobre pouco espaço para pensar em nossos próprios sonhos. 

O Foco Cultural na Subsistência

Um ponto que me fez refletir profundamente é como muitas vezes estamos culturalmente focadas na base da pirâmide de Maslow, onde necessidades básicas como segurança e sobrevivência consomem nossa energia. Em um estudo da UN Women (2020), muitas mulheres relatam que esse foco na sobrevivência é uma barreira que as impede de pensar em sonhos maiores. Sonhar parece algo distante, quando o que mais nos ocupa é garantir que todos ao nosso redor estejam bem, que as contas estejam pagas, e que o dia a dia esteja funcionando. Mas o que acontece quando focamos apenas nisso e deixamos nossos desejos pessoais de lado? 

A Importância de Apoio e Mentoria 

Por fim, algo que não podemos esquecer é o poder do apoio. A falta de redes de suporte e mentoria adequada também nos isola. Muitas vezes, sentimos que estamos sozinhas nesse caminho, que as lutas são individuais, mas isso não precisa ser assim. Estudos mostram que mulheres com mentoria têm 66% mais chances de ascender a posições de liderança (LeanIn.org e McKinsey & Company, 2021). Apoiar-se em outras mulheres, em redes de suporte e em mentoras pode ser o impulso que precisamos para redescobrir e perseguir nossos sonhos. Eu aprendi que, ao abrir espaço para essas conexões, estamos criando o ambiente necessário para florescer e, mais importante, para sonhar.  

Agora, a Pergunta que Fica: 

Quando foi a última vez que você se permitiu sonhar para si mesma? É uma pergunta simples, mas que carrega tanto significado. Estamos tão acostumadas a cuidar de tudo e de todos, mas você merece um espaço para si, para suas ambições, para seus sonhos. Vamos mudar isso juntas? O que você deseja que o futuro traga para você? 

Artigo produzido por:

Fernanda Cobos

Fundadora da Yellow, um ecossistema transformador que guia mulheres e mães a se reconectarem com sua essência, suas carreiras e seus negócios. 
Na Yellow, trabalhamos juntas para criar estratégias de vida e negócios que honrem sua autenticidade e propósito. É um espaço para mulheres que desejam parar de apenas sobreviver e começar a florescer de verdade. 

Os textos apresentados no "Blog B2Mamy" são de autoria da Comunidade. Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial e/ou a opinião da B2Mamy.